segunda-feira, 31 de outubro de 2011

IBAMA em ação


A reforma agrária como solução para os problemas ambientais


Sabemos que a preservação ambiental é um tema que “está na moda”, ela é divulgada pelos meios midiáticos e está presente no discurso do Estado, no entanto esses meios tratam o “homem” como causador e/ou acelerador dos problemas ambientais.
No entanto o problema vai muito além disso, não podemos pôr a culpa no humano em si, pois o problema é estrutural, diferentemente do que é divulgado não há como haver desenvolvimento sustentável dentro do sistema o qual somo regidos, pois preservação ambiental e crescimento econômico são contraditórias.
Recentemente, o mundo passou a contar com cerca de 7 bilhões de pessoas e a partir de então ressurgiu diversas dúvidas, como por exemplo, até quando a terra produzirá suficientemente para todos os habitantes do planeta? Sabemos que atualmente alimentos não faltam, na verdade faltam-se meios que permitam o acesso a toda população a ter o que comer.
Para se ter uma ideia, o Brasil joga na lata do lixo o equivalente a R$ 12 bilhões em alimentos por ano. Essa montanha de comida daria para alimentar cerca de 30 milhões de pessoas, ou 8 milhões de famílias durante um ano inteiro.
Esse cálculo foi feito pela Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo.  E segundo estimativas da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação, a FAO, 10% dos brasileiros são desnutridos. Somam 17 milhões de pessoas que vivem com fome ou não comem o suficiente para manter a saúde. Dentro desse contingente, há mais de cinco milhões de crianças e idosos, os que mais sofrem com a desnutrição.

Esses números comprovam que alimentos se têm em fartura. Destaca-se ainda que além do desperdício doméstico, existe ainda o desperdício nos setores de produção e comercialização o que aumentaria ainda mais esses números.
Destaca-se que os grandes responsáveis por esse número são na verdade os grandes latifundiários. Pois além da produção em extensas áreas de produtos que visam à industrialização e a produção de biocombustíveis, muitos alimentos são desperdiçados diariamente por que não atingem o padrão necessário à exportação.
Por outro lado, o camponês trabalha para seu auto sustento, sendo assim aproveita tudo que é produzido, grande parte fica em suas casas enquanto o pouco que sobra é vendido para obtenção de outros produtos necessário à família.
Portanto, o problemas ambientais que presenciamos é culpa do sistema econômico a qual somos regidos, pois ele visa apenas o capital e ignora todos os problemas ambientais que a industrialização e o crescimento econômico reflete na natureza.
Quando o estado e a mídia (que também estão a serviço do capital) dizem que estão preocupados com o meio ambiente é apenas uma farsa, pois a única preocupação deles é com o econômico, eles sabem o quanto eles afetam o meio ambiente e consequentemente sabem que é necessário garantir reservas naturais para que futuramente possam utilizá-las para seu interesse econômico.
Neste sentido, devemos notar que apenas uma verdadeira reforma agrária pode resolver de verdade os problemas ambientais e econômicos de nosso país e do mundo, pois ninguém melhor do que o camponês para cuidar do meio em que vive, pois aquele que tem a terra como seu meio de produção e de seu auto sustento sabe o quanto ela é importante, e consequentemente a utiliza verdadeiramente de forma sustentável.

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

As ONGs como instrumentos do Imperialismo


Hoje, se fala muito sobre “desenvolvimento sustentável”, e no seio desse debate surgem várias ONGs que afirmam está a favor da conservação ambiental, como é o caso de ONGs e projetos financiados por organizações que, no nosso entendimento, parecem desenvolver atividades estreitamente vinculadas aos interesses imperialistas na região Amazônica: Woods Hole Research Center-WHRC, Large Scale Biosphere Atmosphere-LBA, World Wildlife Fund-WWF, The Nature Conservancy – TNC, Conservation International CI , Fundação Ford – FF, Novib, Oxfam, International Food Policy Research Institute - IFPRI, Instituto Lingüístico de Verão - SIL, New York Botanic Garden - NYBG, Instituto de Pesquisas da Amazônia - IPAM, Universidade da Flórida, PESACRE entre os outros.
O fato é que essas ONGs principalmente na Amazônia apresentam a “conservação ambiental” como uma forma de desenvolvimento econômico, no entanto por trás da falácia da preservação ambiental existem grandes financiamentos por parte dessas ONGs de grandes empresas multinacionais e universidades estadunidenses e europeias. E essas grandes empresas são grandes responsáveis pela degradação de nosso meio ambiente o que configura uma grande contradição. Além dos financimentos essas organizações internacionais operam também na amazônia diretamente em projetos de seus interesses. Podemos afirmar que esses projetos são financiados e desenvolvidos por agentes estreitamente interligados aos interesses do capital monopolista internacional, principalmente estadunidense.

As ONGs incentivam os moradores locais a preservarem a Amazônia, mas engana-se que elas fazem isso pensando na questão ambiental, pelo contrário, elas estão ali para garantir os interesses de seus financiadores, como nós sabemos a Amazônia é rica em minério, mas além disso, sua biodiversidade traz consigo uma gama de plantas que podem ser utilizadas na fabricação de remédios medicinais, e sua fauna por mais incrível que pareça também sua utilidade medicinal, existe por exemplo na Amazônia, um sapo que solta uma substância que pode ser usada no uso de anestesia.

Nesse sentido elas atuam não somente na intenção de conter os movimentos sociais que procuram realmente a conservação da natureza, como também garantir suas reservas ambiental-econômica, pois As ações dessas ONGs estão envoltas de um emaranhado de relações e de interesses do sistema atual vigente, visando o ramo da biotecnologia, que tem sua principal fonte de recursos nas matérias primas das áreas de florestas tropicais, e em especial a Amazônia.

Quem se interessar mais sobre o assunto pode baixar o artigo de Nazira Correia Camely, que é baseado na sua tese de doutorado que tratou sobre esse tema, o endereço para baixar o artigo é:

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Wall Street em foto e charge

Traduzindo a foto: erro de sistema - Capitalismo está caindo! Instalar novo sistema?

O sucesso fantástico do Ocupar Wall Street


O movimento Ocupar Wall Street – por enquanto é um movimento - é o acontecimento político mais importante nos Estados Unidos desde as mobilizações de 1968, das quais é descendente directo ou continuação.
Nunca saberemos com segurança porque começou nos Estados Unidos neste momento – e não três dias, três meses, três anos mais cedo ou mais tarde. As condições estavam lá: um crescente e agudo sofrimento económico não apenas para os realmente miseráveis, mas para um segmento cada vez maior de trabalhadores pobres (também conhecido como “classe média”); exagero incrível (exploração, ganância) dos 1% mais ricos da população dos EUA (“Wall Street"); o exemplo das explosões de indignação em todo o mundo (a "Primavera árabe", os indignados espanhóis, os estudantes chilenos, os sindicatos de Wisconsin, e uma longa lista de outros). Não importa realmente qual foi a faísca que ateou o fogo. O certo é que começou.
No primeiro estágio – os primeiros dias – o movimento era um punhado de audaciosos, na maioria jovens, que estavam a tentar manifestar-se. A imprensa ignorou-os totalmente. Até que alguns estúpidos capitães da polícia pensaram que um pouco de brutalidade poria fim às manifestações. Foram filmados, e o filme tornou-se viral no YouTube.
Isso trouxe-nos para o estágio dois – a publicidade. A imprensa já não podia ignorar inteiramente os manifestantes. Tentou então a condescendência. O que é que esses jovens tolos e ignorantes (e algumas mulheres mais velhas) sabiam de economia? Tinham algum programa positivo? Eram "disciplinados"? As manifestações, disseram-nos, cedo iriam fracassar. O que a imprensa e os poderes constituídos não contavam (eles nunca parecem aprender) é que o tema do protesto repercutisse amplamente e pegasse rapidamente. Cidade após cidade, começaram “ocupações” semelhantes. Começaram a aderir desempregados de 50 anos. Celebridades fizeram o mesmo. Assim como os sindicatos, incluindo nada menos que o presidente da AFL-CIO. Por esta altura, a imprensa fora dos Estados Unidos já começava a acompanhar os acontecimentos. Perguntados sobre o que queriam, os manifestantes responderam: "justiça". Mais e mais pessoas começaram a achar que essa resposta tinha sentido.
Chegámos então à terceira fase – a legitimidade. Académicos de certa reputação começaram a sugerir que o ataque a "Wall Street" tinha alguma justificação. De repente, a principal voz da respeitabilidade centrista, o The New York Times, publicou um editorial em 8 de Outubro onde afirmava que os manifestantes tinham, efectivamente, "uma mensagem clara e propostas políticas específicas" e que o movimento era "mais do que uma revolta juvenil". E o Times prosseguia: “A desigualdade extrema é a marca de uma economia desfuncional, dominada por um sector financeiro impulsionado tanto pela especulação, pela extorsão e pelo apoio estatal, quanto pelo investimento produtivo." Uma linguagem forte para o Times. O Comité da Campanha Democrata no Congresso começou então a fazer circular uma petição a pedir aos apoiantes do partido que declarassem: “Estou com os protestos Ocupar Wall Street."
O movimento tornara-se respeitável. E com a respeitabilidade veio o perigo – fase quatro. Um grande movimento de protesto que vingou enfrenta em geral duas grandes ameaças. Uma é a organização de uma contra-manifestação significativa da direita nas ruas. Eric Cantor, o líder republicano do Congresso, de linha dura (e bastante astuto) já apelou, na verdade, a que isso fosse feito. Estas contra-manifestações podem ser bastante ferozes. O movimento Ocupar Wall Street precisa estar preparado para isto e pensar numa forma de lidar ou conter essas iniciativas.
Mas a segunda e maior ameaça vem do próprio sucesso do movimento. À medida que atrai mais apoio, amplia a diversidade de pontos de vista entre os manifestantes activos. O problema aqui é, como sempre é, como evitar o Cila de ser um culto estreito que se iria perder, devido à sua base reduzida, e o Caríbdis1 de deixar de ter coerência política por ser muito amplo. Não existe uma fórmula simples para evitar qualquer destes extremos. É difícil.
Quanto ao futuro, o movimento pode ir de vento em popa. Pode ser capaz de fazer duas coisas: forçar a reestruturação de curto prazo do que o governo fará realmente para minimizar o sofrimento que as pessoas estão, obviamente, a sentir intensamente; e concretizar uma transformação de longo prazo da forma como grandes segmentos da população americana encaram a realidade da crise estrutural do capitalismo e as grandes transformações geopolíticas que estão a ocorrer, porque estamos a viver num mundo multipolar.
Mesmo que o movimento Ocupar Wall Street começasse a definhar devido ao cansaço ou à repressão, já conseguiu um enorme sucesso e vai deixar um legado duradouro, tal como as mobilizações de 1968. Os Estados Unidos mudaram, e numa direcção positiva. Como diz o ditado, “Roma não foi construída num dia.” Construir um novo e melhor sistema-mundo, um novo e melhor EUA, eis uma tarefa que exige esforço constante de sucessivas gerações. Mas um outro mundo é realmente possível (embora não inevitável). E nós podemos fazer a diferença. O Ocupar Wall Street está a fazer a diferença, uma grande diferença.
Immanuel Wallerstein
Comentário nº 315, 15 de Outubro de 2011
Tradução, revista pelo autor, de Luis Leiria para o Esquerda.net
1 A expressão «Entre Cila e Caribde» (Grande Dicionário Enciclopédico da Verbo, 1997) ou «entre Cila e Caríbdis» (Dicionário de Frases Feitas, de Orlando Neves, 1991) é uma forma invulgar que corresponde à tão conhecida «entre a espada e a parede» e que representa a sensação de se estar «num dilema, em perigo iminente, em grande dificuldade». Esta expressão deve-se a uma realidade de grande perigo por que passavam os marinheiros quando passavam no estreito de Messina, pois ao fugirem do Caribde (um turbilhão que aí se formava), iam muitas vezes contra Cila, rochedo pouco distante da costa de Itália. Por isso também existe a expressão «fugir de Cila para cair em Caribde» para exprimir a ideia de «evitar um perigo e cair noutro maior» (Grande Dicionário Enciclopédico, in Ciberdúvidas da Língua Portuguesa)

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Copa 2014 no país do futebol... e da miséria... e da corrupção...




O SUS e a precariedade do atendimento à saúde no país


Hoje, dia 25, médicos  de vários estados do país resolveram manifestar-se contra a precariedade da saúde no país, como afirma o presidente da Federação Nacional dos Médicos (Fenam), Cid Carvalhaes, ele diz que a paralisação dos médicos que prestam atendimento pelo SUS nesta terça-feira (25) é apenas uma das ações dentro de uma “mobilização nacional” da categoria para que a população perceba os problemas do sistema de saúde público do país.
 
Segundo ele, todos os atendimentos de emergência e urgência serão realizados.

A paralisação foi aderida pelos médicos de cerca de 20 estados. Nos demais, haverá manifestações. Os estados que aderiram são: Acre, Alagoas, Amapá, Amazonas, Bahia, Espírito Santo, Goiás, Maranhão, Minas Gerais, Pará, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, Rondônia, Santa Catarina e Sergipe.

Em outros dois estados a paralisação será pontual: em Santa Catarina, deve ocorrer durante a tarde e durar cerca de uma hora; em São Paulo, deverá ocorrer apenas em algumas unidades, diz a Fenam. Nos outros estados e no Distrito Federal foram programadas manifestações públicas em protesto contra a precariedade da rede pública.

Em Mato Grosso, a Fenam divulgou que haverá paralisação, mas as entidades que representam a categoria no estado negaram a informação. Os médicos pedem um piso salarial de R$ 9.188,22 para uma jornada de 20 horas semanais de trabalho, além de melhores nos recursos humanos e materiais nos hospitais e postos de saúde.

Sobre o fato de Paraná e Mato Grosso do Sul não terem aderido à paralisação, Carvalhaes informou que a decisão sobre a forma de integrar a mobilização foi tomada separadamente pelos médicos de cada estado e que, em ambos, a categoria está unida e optou por fazer manifestações em locais fechados.
(o texto acima é baseado no site da G1)

É válido toda e qualquer manifestação em prol da melhoria da saúde no país, no entanto devemos apenas fazer uma correção, o presidente da FENAM disse que isso tem como objetivo mostrar a população o problema da saúde pública no país. No entanto, ninguém mais que a população brasileira sabe mais como é precária a assistência à saúde no Brasil.

Eu trabalho como agente de saúde, e o que mais ouço são reclamações com o SUS, no entanto o problema não está no sistema único de Saúde, mas sim no modo que nossos governantes administram. Em todos os hospitais públicos do país o atendimento é precário , falta médicos, materiais nos hospitais e postos de saúdes, remédio para a população além da demora para marcação de exames e consultas.

São poucos os médicos que querem trabalhar no SUS, pois de acordo com que ele ganham em seus escritórios particulares o salário pago pelos serviços do SUS torna-se muito pouco, assim preferem trabalhar em suas clínicas do que ser funcionários do governo.

Muitos médicos acabam também não atendendo a população como deveria, e em todo país ouvimos casos de negligência médica, o fato é que o SUS, com seus princípios de equidade, integralidade, universalidade, participação da comunidade, descentralização politico-administrativa e regionalização é muito bonita no papel porém na prática nada disso acontece e assim a população que mais usa o SUS é a que mais sofre com essa precariedade. O fato é como ouvi uma vez: “O SUS não funciona em nosso país, porque tem princípios socialistas em um país capitalista”. Isso só mudará quando nossos governantes não pensarem mais somente no econômico, mas sim no social..

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

sábado, 22 de outubro de 2011

Os Verdadeiros bandidos


José Eli da Veiga: grave afronta à inteligência nacional


Por José Eli da Veiga
Professor da pós-graduação do Instituto
de Relações Internacionais da USP (IRI/USP)
Do Valor

A maioria dos 410 deputados que aprovaram o projeto de lei sobre a proteção da vegetação nativa (PLC-30) nem teve chance de perceber o tamanho dos disparates nele introduzidos. Certamente devido à balbúrdia em que transcorreu o processo de votação, favorecendo os míopes interesses de um subsetor econômico muito específico: o da pecuária de corte de expansão horizontal, concentrada na franja impropriamente chamada de "fronteira agrícola".

Com certeza o Senado honrará sua missão revisora, colocando em primeiro lugar os interesses estratégicos da nação, ao contrário do que ocorreu com a Câmara na lastimável noite de 24 de maio. Muitas das distorções do PLC-30 foram bem enfatizadas em recentes audiências públicas de juristas e pesquisadores científicos, inspirando as 174 emendas apresentadas à CCJ e à CCT por 16 senadores, quase todas com o intuito de evitar inúmeros perigos de tão insensata marcha reversa. Provavelmente outras ainda serão propostas em mais duas comissões que vão anteceder o plenário: a de agricultura e a de meio ambiente.

Lista circunstanciada dos absurdos do PLC-30 está nas 28 páginas de "Propostas e considerações" das duas maiores sociedades científicas brasileiras (SBPC e ABC), divulgadas há uma semana. Confirma que são quatro as principais aberrações que demandam minucioso exame do Senado:

a) drástica redução das áreas de preservação permanente (APP);

b) inviabilização da imprescindível flexibilidade das reservas legais (RL);

c) contrabando de milhões de imóveis rurais sob o manto de pretensa solidariedade aos "pequenos produtores";

d) inepta escolha de julho de 2008 como data para o perdão de infrações.

A balbúrdia da votação não permitiu que a maioria dos deputados se desse conta dos disparates da PLC-30

Pela legislação em vigor, o conjunto das áreas de preservação permanente (APP) deveria corresponder a 15% do território nacional, totalizando 135 milhões de hectares (Mha). Todavia, existe um déficit de 55 Mha - quase todo invadido por indecentes pastagens - que será mais do que "consolidado" pelas brutais reduções das exigências de conservação de matas ciliares, ripárias, de encostas, de topos de morro e de nascentes. Algo inteiramente desnecessário, pois a bovinocultura poderá ser incomparavelmente mais eficiente e produtiva com muito menos do que os exageradíssimos 211 Mha que atualmente ocupa (78% da área da agropecuária). Bastará um pouco de profissionalismo e bem menos especulação fundiária.

O surgimento de mercados estaduais de compensações de reservas legais (RL) seria um grande passo à frente, principalmente para os produtores cujas fazendas não dispõem de terras de baixa aptidão. É completamente irracional destinar solos de boa qualidade à recuperação de vegetação nativa, ou mesmo reflorestamento com exóticas. Nada melhor, portanto, do que remunerar detentores de terras marginais para que eles constituam condomínios de reservas. Com a imensa vantagem de que elas não estariam dispersas em pequenos fragmentos isolados, alternativa infinitamente superior para a conservação da biodiversidade. É trágico, portanto, que o PLC-30 tenha feito uma opção preferencial por forte redução dessas áreas, em vez de viabilizar o surgimento desses mercados estaduais de compensações.

Tão ou mais escandalosa é a tentativa de desobrigar todos os imóveis rurais com áreas inferiores a quatro módulos fiscais sob o pretexto de ajudar "pequenos produtores". A maior parte dos imóveis desse tamanho são chácaras e sítios de recreio de famílias urbanas de camadas sociais privilegiadas. Nesse ponto, os deputados inadvertidamente legislaram em benefício próprio, já que muitos deles, assim como seus parentes e amigos, têm propriedades desse tipo.

Se o objetivo fosse realmente favorecer produtores rurais de pequeno porte, bastaria que o PLC-30 não fizesse letra morta da lei 11.326, promulgada pelo presidente Lula em julho de 2006, após um decênio de experiência acumulada pelo tardio Programa de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), criado em julho de 1996 por decreto do presidente FHC.

Para delimitar essa categoria sem contrabandear casas de campo de urbanos do andar de cima, ou de quaisquer proprietários com vários imóveis, a lei considera agricultores e empreendedores familiares apenas os que praticam atividades no meio rural atendendo simultaneamente a quatro requisitos:

a) não detenham a qualquer título área maior do que quatro módulos fiscais;

b) utilizem predominantemente mão de obra da própria família nas atividades econômicas do seu estabelecimento ou empreendimento;

c) tenham renda familiar predominantemente originada de atividades econômicas vinculadas ao próprio estabelecimento ou empreendimento; d) dirijam seu estabelecimento ou empreendimento com sua família.

Finalmente, mas não menos relevante, é lembrar que a Constituição não reconhece direito adquirido em matéria ambiental, desautorizando qualquer data para perdões por desmatamentos ilegais que seja posterior ao primeiro ato regulamentador da Lei de Crimes Ambientais: 21 de setembro      de 1999.

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

A injusta Justiça para os injustiçados


"Ocupa Wall Street" e o MST juntos: ocupar, resistir e produzir um novo mundo

Por Janaina Stronzake
Militante do MST
De Nova York/Estados Unidos



Em setembro de 2011, alguns jovens tiveram a idéia de acampar em Wall Street, uma rua de Nova York, famosa por abrigar as maiores corporações financeiras do mundo, para exigir que os financistas devolvam o que haviam roubado.
Eles não receberam muita atenção. E uns dias depois, a polícia tentou despejá-los. Foi quando os holofotes se voltaram ao grupo e então já era uma multidão de caras e vozes ocupando a praça.
Com a convocatória mundial para ocupações no dia 15 de outubro, vem um novo fôlego, com sindicatos e grupos organizados se juntando à ocupação. Talvez o “Occuppy Wall Street” não seja a maior ocupação do mundo, não tenha mais pessoas, talvez não seja a mais organizada. Mas é a que está no coração financeiro do capitalismo.
Na praça está proibido o uso de microfones. Quando alguém fala à assembleia, as palavras vão sendo repetidas pela multidão.
Quando o MST levou sua solidariedade ao povo mobilizado em Wall Street, centenas de vozes repetiram, com os punhos levantados: “ocupar, resistir e produzir”.
De certa forma, é esse o compromisso do MST e de todos os que ocupam Nova York: ocupar o mundo, resistir coletivamente e produzir outra cultura e um outro mundo.
Ali na praça, a voz é aberta. De um lado, um grupo de asiáticos e asiáticas batem tambores e parecem rezar. Do outro, tambores africanos ressoam durante todo o dia. À esquerda, dois homens distribuem panfletos enquanto entoam sem parar “ajuda para as pequenas empresas”. Mímicos, jornalistas, hippies, estudantes, desempregadas... Alguns descansam, outros fazem reuniões. E a cozinha coletiva no meio de tudo.
Há quem está ali porque deseja mais empregos. Há quem queira parar a onda neoliberal. Todas e todos querem o fim do capitalismo, por meio da quebra do mercado financeiro. Ouvimos um homem de mais ou menos 40 anos dizer “estou aqui porque não posso olhar meus filhos e dizer que não lutei”.
Ainda não se sabe exatamente o rumo que as ocupações, que se multiplicam por outras cidades nos Estados Unidos e no mundo, vão tomar. Uma assembleia soberana decidirá em algum momento esse rumo. Por enquanto, expressões diversas vão galvanizando desejos de um outro mundo.

KHADAFI MORREU COMBATENDO COM DIGNIDADE E COERÊNCIA


A foto divulgada pelos contra-revolucionários do CNT elimina dúvidas: Muamar Khadafi morreu.
Notícias contraditórias sobre as circunstâncias da sua morte correm o mundo, semeando confusão. Mas das próprias declarações daqueles que exibem o cadáver do líder líbio transparece uma evidência: Khadafi foi assassinado.
No momento em que escrevo, a Resistência líbia ainda não tornou pública uma nota sobre o combate final de Khadafi. Mas desde já se pode afirmar que caiu lutando.
A midia a serviço do imperialismo principiou imediatamente a transformar o acontecimento numa vitória da democracia, e os governantes dos EUA e da União Europeia e a intelectualidade neoliberal festejam o crime, derramando insultos sobre o último chefe de Estado legitimo da Líbia.
Essa atitude não surpreende, mas o seu efeito é oposto ao pretendido: o imperialismo exibe para a humanidade o seu rosto medonho.
A agressão ao povo da Líbia, concebida e montada com muita antecedência, levada adiante com a cumplicidade do Conselho de Segurança da ONU e executada militarmente pelos EUA, a França e a Grã Bretanha deixará na História a memória de uma das mais abjectas guerras neocoloniais do início do século XXI.
Quando a OTAN começou a bombardear as cidades e aldeias da Líbia, violando a Resolução aprovada sobre a chamada Zona de Exclusão aérea, Obama, Sarkozy e Cameron afirmaram que a guerra, mascarada de «intervenção humanitária», terminaria dentro de poucos dias. Mas a destruição do país e a matança de civis durou mais de sete meses.
Os senhores do capital foram desmentidos pela Resistência do povo da Líbia. Os «rebeldes», de Benghazi, treinados e armados por oficiais europeus e pela CIA, pela Mossad e pelos serviços secretos britânicos e franceses fugiam em debandada, como coelhos, sempre que enfrentavam aqueles que defendiam a Líbia da agressão estrangeira.
Foram os devastadores bombardeamentos da OTAN que lhes permitiram entrar nas cidades que haviam sido incapazes de tomar. Mas, ocupada Tripoli, foram durante semanas derrotados em Bani Walid e Sirte, baluartes da Resistência.
Nesta hora em que o imperialismo discute já, com gula, a partilha do petróleo e do gás libios, é para Muamar Khadafi e não para os responsáveis pela sua morte que se dirige em todo o mundo o respeito de milhões de homens e mulheres que acreditam nos valores e princípios invocados, mas violados, pelos seus assassinos.
Khadafi afirmou desde o primeiro dia da agressão que resistiria e lutaria com o seu povo ate à morte.
Honrou a palavra empenhada. Caiu combatendo.
Que imagem dele ficará na História? Uma resposta breve à pergunta é hoje desaconselhável, precisamente porque Muamar Khadafi foi como homem e estadista uma personalidade complexa, cuja vida reflectiu as suas contradições.
Três Khadafis diferentes, quase incompatíveis, são identificáveis nos  42 nos em que dirigiu com mão de ferro a Líbia.
O jovem oficial que em 1969 derrubou a corrupta monarquia Senussita, inventada pelos ingleses, agiu durante anos como um revolucionário. Transformou uma sociedade tribal paupérrima, onde o analfabetismo superava os 90% e os recursos naturais estavam nas mãos de transnacionais americanas e britânicas, num dos países mais ricos do mundo muçulmano. Mas das monarquias do Golfo se diferenciou por uma politica progressista. Nacionalizou os hidrocarbonetos, erradicou praticamente o analfabetismo, construiu universidades e hospitais; proporcionou habitação condigna aos trabalhadores e camponeses e recuperou para uma agricultura moderna milhões de hectares do deserto graças à captação de águas subterrâneas.
Essas conquistas valeram-lhe uma grande popularidade e a adesão da maioria dos líbios. Mas não foram acompanhadas de medidas que abrissem a porta à participação popular. O regime tornou-se, pelo contrário, cada vez mais autocrático. Exercendo um poder absoluto, o líder distanciou-se progressivamente nos últimos anos da política de independência que levara os EUA a incluir a Líbia na lista negra dos estados a abater porque não se submetiam. Bombardeada Tripoli numa agressão imperial, o país foi atingido por duras sanções e qualificado de «estado terrorista».
Numa estranha metamorfose surgiu então um segundo Khadafi. Negociou o levantamento das sanções, privatizou empresas, abriu sectores da economia ao imperialismo. Passou então a ser recebido como um amigo nas capitais europeias. Berlusconi, Blair, Sarkozy, Obama ,Sócrates  receberam-no com abraços hipócritas e muitos assinaram acordos milionarios , enquanto ele multiplicava as excentricidades, acampando na sua tenda em capitais europeias.
Na última metamorfose emergiu com a agressão imperial o Khadafi que recuperou a dignidade.
Li algures que ele admirava Salvador Allende e desprezava os dirigentes que nas horas decisivas capitulam e fogem para o exílio.
Qualquer paralelo entre ele e Allende seria descabido. Mas tal como o presidente da Unidade Popular chilena, Khadafi, coerente com o compromisso assumido, morreu combatendo. Com coragem e dignidade.
Independentemente do julgamento futuro da História, Muamar Khadafi será pelo tempo afora recordado como um herói pelos líbios que amam a independência e liberdade. E também por muitos milhões de muçulmanos.
A Resistência, aliás, prossegue, estimulada pelo seu exemplo.
Vila Nova de GAIA, no dia da morte de Muamar Khadafi