quinta-feira, 28 de abril de 2011

Dia Nacional da Caatinga



A caatinga é um dos mais recentes biomas brasileiros, com boa capacidade de regeneração, perfeitamente adaptada ao clima e aos solos locais. É um erro considerá-la como um bioma pobre em biodiversidade vegetal e animal, uma espécie de deserto.

Ela praticamente se confunde com toda a extensão do Semi-Árido, incluindo o conjunto de vidas – vegetal, animal e humana – que habita esse território. Já foi mais restrita, mas agora, com a incorporação do Norte de Minas, passou a ter uma extensão de 1.037.000 Km2, correspondentes a 12% do território nacional e 70% do Nordeste. Aí residem 12% da população brasileira e
63% da nordestina.14 Grande parte da população da caatinga ainda mora no meio rural.
Não são claras as razões que explicam a permanência de tanta gente no campo, sobretudo numa região que muitos consideram inviável. Talvez a população fique porque suas terras ainda não foram confiscadas pelo latifúndio, que não se interessou tanto por elas.
Mas há quem pense diferente. O povo fica porque construiu uma relação cultural profunda com o meio. O povo caatingueiro é apaixonado pela caatinga e, ainda que precariamente, aprendeu a viver em seu ambiente. A criação de pequenos animais, a apicultura, a água colhida em reservatórios escavados no chão e outras soluções possibilitam que o povo nasça, cresça e se reproduza, embora migre intensamente, para ir e para voltar.

A vegetação da caatinga também não é tão uniforme como se costuma pensar. Tem, pelos menos, três níveis. O primeiro é arbóreo, com uma altura variada de oito a doze metros, árvores de ótimo porte; o segundo é arbustivo, com uma altura de dois a cinco metros; o terceiro é herbáceo, com menos de dois metros. É uma vegetação que se adaptou ao clima. No tempo da seca, perde as folhas, mas não morre; adormece, hiberna. Várias plantas armazenam água, como o umbuzeiro, que tem batatas nas raízes, onde estoca reservas para os tempos secos. Muitas têm raízes rasas, praticamente captando a água na superfície, no momento da chuva.

Ao contrário do que muitos pensam, a caatinga é um ecossistema único, que apresenta grande variedade de paisagens, relativa riqueza biológica e endemismo. Apesar desse bioma ser pouco conhecido, estudos identificaram até agora uma gama de espécies bastante ampla. A biodiversidade da caatinga se compõe de, no mínimo, 1.200 espécies de plantas vasculares, 185 espécies de peixes, 44 lagartos, 47 cobras, 4 tartarugas, 3 crocodilos, 49 anfíbios, 350 pássaros e 80 mamíferos. A percentagem de endemismo é muito alto entre as plantas vasculares
(aproximadamente 30%) e um pouco menor no caso dos vertebrados (até 10%).

O bioma caatinga foi reconhecido como Reserva da Biosfera em 2001 pela Unesco. Abriga sete parques nacionais, uma reserva biológica, quatro estações ecológicas, três florestas nacionais, cinco áreas de proteção ambiental, três parques estaduais, um parque botânico, um parque ecológico estadual e doze terras indígenas.16 A reserva biológica tem 190.000 km2 e se estende pelos nove estados do Nordeste, além do Norte de Minas. A finalidade principal é proteger a biodiversidade, combater a desertificação, promover atividades sustentáveis e realizar
estudos sobre o bioma.

(Texto acima foi retirado do Livro: Semi-árido: uma visão holística de Roberto Malvezzi).

Hoje, (dia 28 de abril) comemora-se o dia nacional da caatinga, mas não temos muito motivos para comemorar esse dia, não pelo bioma, pois ele é rico e merece nossa comemoração, no entanto este vem sofrendo pela degradação ambiental muito forte. Os pesquisadores constataram que esse é o terceiro ecossistema brasileiro mais degradado, atrás apenas da Mata Atlântica e do cerrado. 50% de sua área foram alterados pela ação humana, sendo que 18% de forma considerada grave por especialistas. A desertificação, encontrada principalmente em áreas onde antes se desenvolvia o plantio de algodão, apresenta-se bastante avançada.

Além do desmatamento, um sério problema enfrentado por esse domínio é a caça aos animais. A percentagem das áreas de caatinga protegidas por reservas e parques é muito pequena: 0,002%, segundo o Ministério do Meio Ambiente.

O Ministério do Meio Ambiente já declarou seu interesse em transformar a caatinga em patrimônio nacional e assumir para si a responsabilidade da proteção. Mas não acredito que isso seja suficiente, pois o sistema atual vigente não privilegia a natureza, uma prova disso é o que acontece no vale do São Francisco onde imensas áreas da caatinga foram devastadas para implantar-se na região o agronegócio, modelo esse que visa apenas o lucro, diferente da agricultura praticada pelos pequenos camponeses que visam apenas o auto-consumo.

Destaco que não é pôr somente no Estado a responsabilidade desse bioma tão maltratado, pois este está a serviço do capital, mas deve ser uma luta do povo através de manifestações contra a territorialização do agronegócio e do latifúndio, pois estes são os grandes responsáveis pela degradação na Caatinga.

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